Eu sempre procuro tirar algum ensinamento de todas as coisas que me proponho a fazer, seja um trabalho comissionado, uma leitura ou um desafio de desenho. Para muitos isso pode parecer bobagem, mas nós somos a soma de todas essas experiências, de nada adianta pagar caro por um curso ou por um material artístico, se o fazer cotidiano não é levado em consideração.
Recebi uma quantidade enorme de feedback durante o MerMay, que há muito tempo não acontecia, talvez porque o público anda saturado de redes sociais e acabou retornando para o blog. Como cada ilustração tinha uma história, um processo e até trilha sonora, foi muito legal acompanhar a reação de quem me segue em diferentes lugares, quais sereias foram mais curtidas, e o quanto as experiências e olhares dos outros completavam meu trabalho. Recebi também muitas dicas de onde poderia melhorar, sugestões de cabelos, corpos, histórias, enfim, foi muito participativo.
Diante disso, resolvi listar cinco ensinamentos que ficaram com o MerMay, assim como fiz durante minha primeira participação no Inktober. Creio que é importante dividir essas experiências porque se nós quisermos ambientes seguros para discutir arte, precisamos criar estes espaços de diálogo. Definitivamente, caixa de comentários de redes sociais não são indicadas para qualquer debate que pretende-se minimamente saudável, então acredito muito nesse movimento de criar aquilo que desejamos ler.
1. Você não é todo mundo: é bem frase de mãe, mesmo, e faz todo o sentido. A primeira "regra" para participar de um desafio de desenho é querer. Faça porque você deseja e se sente bem, não porque todo mundo está fazendo. Se você acha que vai se estressar e tudo virar uma grande obrigação, nem comece. Outra coisa importante é não desenhar para ganhar like. Esse é o grande mal do mundo virtual da arte, as pessoas estão mais preocupadas em ter um retorno em curtidas, do que desenvolver sua técnica e percepção estética. Por isso, não embarque na moda, pense bem se é algo que vai trazer algum retorno efetivo de aprendizado, contatos e satisfação pessoal.
2. Trace um plano de estudos: a pergunta aqui é o que eu quero com esse desafio? Você pode desenhar livremente, ou então fazer um plano de estudo mais elaborado, de acordo com as suas necessidades. Eu, por exemplo, defini que aproveitaria o MerMay para treinar anatomia, gestual e figuras de corpo inteiro, em diferentes posições. A partir disso, defini os materiais que utilizaria, quantas ilustrações faria, os dias das postagens... Ao me organizar, eu criei uma rotina, que foi posta em prática durante o mês de maio. É muito fácil que isso se torne hábito, com o tempo, pois aprendemos a criar um ambiente saudável para estudar.
3. Pesquise referências: não só imagéticas, como também históricas, musicais, folclóricas, literárias. Pense fora da caixa e amplie seu repertório. O resultado não será sentido somente no traço, mas também no seu conhecimento de mundo, e na sua habilidade de desenvolver trabalhos que dialoguem com outras obras. Monte painéis de referência, tanto no Pinterest quanto coletando citações em livros, filmes e canções. Uma das coisas que fiz para o MerMay foi buscar músicas que combinassem com as ilustrações. Pesquisei "mermaid" no Spotify e peneirei tudo o que me interessava. Depois, procurei a letra, vi se realmente tinha relação com o tema, pesquisei nomes para essas personagens, busquei informações em sites e livros sobre mitologia, até criar um mundo para cada uma delas. Muitas pessoas são contra esse método de construção de uma obra, pois creem erroneamente que a ilustração não fala por si, que precisa de bula de remédio, mas não é verdade. Quanto mais escopo você tem, mais oportunidades de trabalho aparecem, pois você mostra que é capaz de contar histórias através do desenho.
4. Faça por você, não pelos outros: é impossível agradar a gregos e troianos, um ditado antigo e bastante aplicável aqui. Entenda que não dá para satisfazer as vontades de todo mundo e, retornando ao primeiro tópico, faça o desafio por você. As pessoas vão sugerir várias coisas ao longo da sua jornada; algumas serão dicas preciosas que farão seu trabalho melhorar, outras serão sugerências que devem ser deixadas de lado. Também haverá quem não goste do que você está fazendo e dirá isso com todas as letras, e tá tudo bem. Ficamos mal no começo, mas é só não dar bola e seguir em frente, não leve para o lado pessoal. Acredito que, novamente, as redes sociais nos tornam viciados em aceitação, e não precisa ser assim. Quando o próprio Tom Bancroft curtiu o tweet com minha Mer-Tea, soube que estava no caminho certo, e isso nos leva ao último item:
5. Tenha respeito por quem criou o desafio: particularmente, vi bastante coisa absurda acontecer durante o MerMay, não sei se porque ele tomou uma proporção maior. O fato é que muitos grupos distorceram o desafio, tinha gente brotando do chão pra cagar regra de como desenhar, e confesso que fiquei bastante assustada. Como já expliquei anteriormente, a ideia original é do Tom Bancroft, que criou uma linda história esse ano, The Mermaid Who Wanted To Fly, e ainda repostou ilustras de vários artistas ao redor do mundo. O que custa respeitar esse cara, que já fez tanta coisa sensacional? A dica sempre é: se um termo bomba na sua time line, vá correndo pesquisar, pois certamente ele foi criado por alguém, e outras pessoas curtiram e estão replicando a ideia. Mas ela tem uma fonte primária, então, busque-a e respeite-a.
Ao longo dessa postagem coloquei todas as minhas artes, para que os leitores pudessem ter uma visão geral de quanto evoluí, da primeira até a última. É importante frisar que nem tudo é lindo e maravilhoso, tem muitos erros e trabalho pesado por trás de cada ilustra. Não é só sentar e fazer, pelo menos para mim. Se é para os outros, maravilha, mas essa não é minha realidade. Estudo pra caramba, leio sobre arte para fazer valer minha formação acadêmica, por isso estou sempre exigindo respeito de quem trabalha com isso, chego a ser a chata do rolê, mas não me importo. Ah, e a sereia mais curtida nas redes sociais foi Lorelei, por isso ela está em destaque! 😉
olá lidy tudo bom? amei o desenho e amo muito mais seus trabalhos gostaria de pedir que você fizesse um post de como pintar cabelos com aquarela comecei a pouco tempo e essa é uma das minhas maiores dificuldades bjs lindona <3
ResponderExcluirOi Rafael, tudo bem? Obrigada pelo carinho.
ResponderExcluirSe você está começando a aquarelar, dá uma olhada no canal da minha professora Sabrina Eras: https://www.youtube.com/user/samesjc
Tem alguns vídeos dela aquarelando cabelos, além do curso online que fiz e super recomendo.
Abraços!
Vc não é todo mundo é mto bom! XDDD Gosto mto do dessas reflexões. Adoro desafios mas tb penso q likes não dizem mto e tenho tentado ter uma relação menos tóxica (internamente mesmo) com relação as redes sociais.
ResponderExcluirAi eu sou bem mãe hahahaha AMO um desafio de desenho, mas acho que o povo pira no like e não aproveita o momento. Tô tentando melhor minha relação com as redes também, elas são ótimas, só não dá pra achar que são a medida das nossas vidas.
ExcluirBju :*
Oi Lidy! Tudo bem?
ResponderExcluirNossa eu amei acompanhar o desafio, principalmente acompanhar suas postagens!
As suas reflexões são riquíssimas para mim!
Realmente essa questão dos likes podem nos atrapalhar muito. Podemos ficar presos em fazer algo só para encantar as pessoas e com isso não estudarmos, não experimentarmos, ficarmos com medo do erro e da rejeição e isso ir nos aprisionando. Acho que por isso que existe também a polêmica e dolorosa questão da cópia, são pessoas que buscam ser ovacionadas, mas não estão interessadas na arte em si. Pelo menos essa é minha visão atual. E não quero me tornar assim, quero muito continuar curtindo todo o processo e me deleitar com os materiais, com as doçuras e dores ao longo de cada arte que eu fizer. E esse blog me conecta com tudo isso, seu trabalho todo me conecta com toda a doçura de se deleitar na criação mesmo que muitas vezes a frustração faça parte do processo! Eu não fiz o desafio todo, mas aproveitei para experimentar bastante, brincar com materiais como a aquarela e o lápis de cor. Não uso muito o lápis de cor e fiquei surpresa que a sereia que eu mais gostei acabei fazendo com esse material. E também foi um processo interessante dela, pois comecei um rascunho, não estava gostando, deixei ele para lá e depois de alguns dias fui rever e fiquei empolgada para terminar! Sentei e fiz com tanto prazer, por fim foi a que mais gostei! Obrigada por tudo Lidy, sempre! Beijos
Sempre fico muito feliz com os teus comentários, Lay! Me dão a sensação de estar no caminho certo, compartilhando algo que realmente vai acrescentar na vida das pessoas <3
ExcluirConcordo muito com a tua visão sobre os likes, também penso assim. Tem muito imediatismo no compartilhar e uma perseguição por aceitação que não julgo saudáveis. O processo criativo é algo que leva tempo, tem muito mais erros do que acertos, e isso é natural. E certamente a cópia está associada a esse movimento nas redes sociais, não é de hoje que bato nessa tecla insistentemente.
Fico feliz que você tenha aproveitado o desafio para fazer várias experimentações e aproveitar mais o lápis de cor, é um dos meus materiais favoritos da vida! Já estou animada para o Inktober, acho que esse ano vou fazer um por semana também, gostei bastante dessa sistemática.
Beijão :**
Sempre acho tuas reflexões sobre a arte super positivas e esclarecedoras.Sempre e um prazer, ler seus posts. Inclusive acho que um dos motivos dos Blog terem diminuído,e a facilidade e a preferência por conteúdos rasos, algo que o Facebook proporciona de forma sem igual.(Vide o hábito de desculpas pelos chamados textoes). Por isso nem sabia que tinham arrumado confusão pelo desafio criado pelo Tom Bancroft. Eu sai do Facebook a um ano, e toda a minha arte progrediu imensamente. Escrevi um livro durante o inktober e estou lançando agora de forma independente.Só estou com instagram, e abri um behance pois já me sinto mais confiante na minha arte.
ResponderExcluirJá estou pensando no Inktober deste ano e como tu, penso de que forma usarei este desafio para aprimorar a minha arte. Continue o blog, sou uma leitora fiel. Bjs Andrea Araujo.Te sigo lá no insta 😘
Oi Andrea, muito obrigada pelo carinho! É muito importante ter incentivo para continuar postando, não só minhas ilustras, como também esses textos reflexivos que curto muito escrever.
ExcluirEu também concordo que a discussão nas redes anda super rasa, principalmente no Facebook. Sobre o Mermay, vi um "artista" dizendo que foi ele quem criou o desafio, desconsiderando totalmente o Tom, as pessoas nem se deram ao trabalho de jogar no Google pra ver do que se tratava.
Tenho tentado estar menos presente nesses espaços tóxicos, que não acrescentam em nada, e vejo que a produtividade aumenta muito. Behance é uma ótima plataforma, a Sulamoon e a Ale Presser fizeram um vídeo maravilhoso sobre poetfólio online: https://www.youtube.com/watch?v=Ru0Cs7JvAKk&feature=share
Já estou super empolgada para o Inktober, também queria muito fazer um livro ou zine com essas produções, quem sabe sai, né?!
Muito obrigada por acompanhar meu trabalho!
Beijos :**
*___*
ExcluirVou ver o video ,valeu a indicação! E sim, se tem uma história para contar, o inktober é bastante motivador! Eu fiz todas as ilustraçoes de um abc (o meu livro se chama Abc dos sentimentos , é um livro infantil)durante ele, e depois venho finalizando,(e estudando muito sobre como fazer um livro!)aos poucos já que venho cuidando do meu marido que esta com uma doença grave. Hoje mesmo, ao ver os arquivos prontos do livro,fiquei rindo sozinha, por que ainda não acredito que transformei este sonho,escrever e ilustrar em realidade.
ExcluirDá tempo de planejar até o inktober!
Bjs
Vou tentar produzir algo bacana para o Inktober desse ano. Essa sensação de pegar um material finalizado é boa demais, tive isso com os prints da minha exposição, que peguei semana passada. Estou mandando boas energias e carinho para ti e para o teu marido, que tudo fique bem! 💖 💖
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