Então Elementais passou... ontem fiz as últimas entregas dos prints vendidos (só sobraram dois!) e encerro, de vez, esta etapa proveitosa, porém cansativa, do meu ano artístico. Não espero voltar a expor tão cedo, pois minha vida parou para que eu pudesse dar conta de toda a carga física e emocional que esse tipo de atividade representa.
Talvez para quem esteja de fora, seja difícil compreender tudo o que envolve montar uma exposição. Recentemente reli o ótimo livro Reflexões sobre a Arte, do Alfredo Bosi, no qual o autor faz alguns apontamentos muito interessantes. Um deles é de que arte é um fazer humano, um conjunto de atos pelos quais se transforma o que a natureza e a cultura nos oferecem. O mesmo reitera que, por se tratar de uma produção, logo, a arte pressupõe trabalho. A própria distinção entre artista e artífice vem muito mais de uma separação econômica e social do que das diferenças entre o trabalho criativo de um ou outro.
Mas não é raro que uma parcela de pessoas fique com a impressão de que é fácil reunir um número x de obras para serem exibidas, afinal, o artista faz o que gosta e, naturalmente, tem um dom para isso. São tantos equívocos que fica difícil sistematizar, mas vou tentar: em primeiro lugar, todo profissional deveria gostar minimamente do que faz, e isso não vai impedir que momentos estressantes aconteçam, é natural. Segundo, dom não existe. Dizer que alguém tem o dom de desenhar é eliminar qualquer traço de estudo para se aprimorar. Recomendo dois vídeos interessantes sobre o assunto, um da Alê Presser e outro da Ana Blue.
Por trás das ilustrações plenamente alinhadas nos expositores, existe um mundo de trabalho que deve ser reconhecido, a começar pelo criativo: a concepção e execução das ideias, para posterior finalização e tratamento digital. Depois disso, o processo é puramente burocrático: colocar essas artes para venda, ficar de olho nos plágios, atualizar o portfólio e as redes para conseguir mais clientes. Sem contar as horas dedicadas aos estudos. Fora que, na grande maioria das vezes, o artista executa sozinho todas as atividades, desde a ideia que gerou o primeiro esboço, até a fila dos Correios para despachar uma encomenda. É por isso que esse processo não pode desaparecer sob a desculpa de ser fácil ou dom.
Para Elementais, tive que definir praticamente sozinha uma série de pormenores (tive ajuda do Antonio no serviço pesado): me reunir com a assessoria do shopping para escolher o mês; definir a quantidade de trabalhos, o tema e quais ilustras se encaixavam (foram horas planejando somente isso); pesquisar formatos de impressão e orçamentos em gráficas da cidade e de fora; me deslocar até outra cidade para buscar o material impresso; definir o valor final das peças e como as venderia; me programar para o dia da montagem e preparar o esquema de colagem, legendas e códigos interativos; divulgar fortemente, todos os dias; tirar fotos e comentar nas de quem me visitou; responder mensagens com dúvidas dos clientes; monitorar as peças reservadas; ir de vez em quando verificar se estava tudo bem com o material; marcar o dia e hora da desmontagem; desmontar com cuidado para não danificar; deixar o local limpo; fazer o acabamento, embalar e entregar os trabalhos vendidos; monitorar os pagamentos; não esquecer de fotografar e registrar todos os processos - de notas fiscais a e-mails.
Por trás das ilustrações plenamente alinhadas nos expositores, existe um mundo de trabalho que deve ser reconhecido, a começar pelo criativo: a concepção e execução das ideias, para posterior finalização e tratamento digital. Depois disso, o processo é puramente burocrático: colocar essas artes para venda, ficar de olho nos plágios, atualizar o portfólio e as redes para conseguir mais clientes. Sem contar as horas dedicadas aos estudos. Fora que, na grande maioria das vezes, o artista executa sozinho todas as atividades, desde a ideia que gerou o primeiro esboço, até a fila dos Correios para despachar uma encomenda. É por isso que esse processo não pode desaparecer sob a desculpa de ser fácil ou dom.
Para Elementais, tive que definir praticamente sozinha uma série de pormenores (tive ajuda do Antonio no serviço pesado): me reunir com a assessoria do shopping para escolher o mês; definir a quantidade de trabalhos, o tema e quais ilustras se encaixavam (foram horas planejando somente isso); pesquisar formatos de impressão e orçamentos em gráficas da cidade e de fora; me deslocar até outra cidade para buscar o material impresso; definir o valor final das peças e como as venderia; me programar para o dia da montagem e preparar o esquema de colagem, legendas e códigos interativos; divulgar fortemente, todos os dias; tirar fotos e comentar nas de quem me visitou; responder mensagens com dúvidas dos clientes; monitorar as peças reservadas; ir de vez em quando verificar se estava tudo bem com o material; marcar o dia e hora da desmontagem; desmontar com cuidado para não danificar; deixar o local limpo; fazer o acabamento, embalar e entregar os trabalhos vendidos; monitorar os pagamentos; não esquecer de fotografar e registrar todos os processos - de notas fiscais a e-mails.
Paralelo a isso segui trabalhando, produzindo, atualizando as redes com outras coisas, respondendo outros clientes, tentando estudar e viver um pouco. Então é muito importante criar a consciência coletiva de que quem faz o que gosta, geralmente em profissões criativas (ilustração, música, dança, teatro, animação de festa infantil, hora do conto e por aí vai), tem um trabalho como qualquer outro.
Outra coisa que acontece, frequentemente, é a supervalorização da aura artística, da arte como processo extraordinário, porém, sem fim comercial. Vejo muitos colegas acadêmicos condenarem quem, assim como eu, aceita encomendas, reproduz e vende seus trabalhos, através de uma leitura equivocada do ensaio de Walter Benjamin, publicado em 1936, chamado A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. Eu também acredito que o momento da criação é único e que a obra original carrega em si um significado que perdurará muito mais do que uma reprodução, porém, vivemos num mundo conectado, interativo, no qual o público pode acompanhar em tempo real o trabalho de seu artista favorito e, neste cenário, é compreensível que produtos, prints e até mesmo obras totalmente virtuais (como wallpapers para celular, por exemplo) sejam apreciadas - e vendidas. Inclusive, considera-se aqui o caso de ilustrações digitais, que só existem no computador mesmo, fazendo com que toda impressão seja uma espécie de original.*
Eu não quis escrever esta postagem para reclamar, pois só tenho a agradecer por ter mostrado meu trabalho e vendido a grande maioria, além do carinho e comparecimento em massa do público, que não só visitou, como fez questão de me ajudar na divulgação. Meu objetivo é dar visibilidade para este "outro lado" do processo criativo, que envolve burocracias, suor e problemas, mas que, mesmo assim, é uma parte importante do todo e deve ser encarada com a devida seriedade. E se for de interesse dos leitores, posso dar dicas para quem deseja montar uma exposição, a partir das minhas experiências.
Abraços,
Lidiane 💖
*Editei este parágrafo em 10/08 para melhorar a compreensão das minhas ideias.
Outra coisa que acontece, frequentemente, é a supervalorização da aura artística, da arte como processo extraordinário, porém, sem fim comercial. Vejo muitos colegas acadêmicos condenarem quem, assim como eu, aceita encomendas, reproduz e vende seus trabalhos, através de uma leitura equivocada do ensaio de Walter Benjamin, publicado em 1936, chamado A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. Eu também acredito que o momento da criação é único e que a obra original carrega em si um significado que perdurará muito mais do que uma reprodução, porém, vivemos num mundo conectado, interativo, no qual o público pode acompanhar em tempo real o trabalho de seu artista favorito e, neste cenário, é compreensível que produtos, prints e até mesmo obras totalmente virtuais (como wallpapers para celular, por exemplo) sejam apreciadas - e vendidas. Inclusive, considera-se aqui o caso de ilustrações digitais, que só existem no computador mesmo, fazendo com que toda impressão seja uma espécie de original.*
Eu não quis escrever esta postagem para reclamar, pois só tenho a agradecer por ter mostrado meu trabalho e vendido a grande maioria, além do carinho e comparecimento em massa do público, que não só visitou, como fez questão de me ajudar na divulgação. Meu objetivo é dar visibilidade para este "outro lado" do processo criativo, que envolve burocracias, suor e problemas, mas que, mesmo assim, é uma parte importante do todo e deve ser encarada com a devida seriedade. E se for de interesse dos leitores, posso dar dicas para quem deseja montar uma exposição, a partir das minhas experiências.
Abraços,
Lidiane 💖
*Editei este parágrafo em 10/08 para melhorar a compreensão das minhas ideias.
Lidy !! Parabéns pelo trabalho maravilhoso e pela exposição !! Só quem é artista para sentir na pele o trabalhão que dá fazer tudo o que fazemos. Eu amei ler este post.
ResponderExcluirEu adoraria ver um post com dicas para quem quer montar uma exposição. Esse mês vou participar de uma exposição coletiva; mas, em outubro, irei expor individual !! Em uma galeria bem boa daqui da minha cidade. Estou bem ansiosa e nervosa, ahaha. xD
Beijoooos !!
Ju, desculpa a demora pra responder teu comentário, minha caixa de comentários ficou fora do ar logo após liberar o teu 😓
ExcluirQue notícia ótima a tua exposição!!!! Gostaria muito de estar aí para ver teus trabalhos ao vivo e te dar um abraço bem apertado ❤ Parabéns!!
Expor sempre é uma função gigante, pois a gente acha que vai ser tranquilo e, no final, aparece algum imprevisto. Se eu puder te dar a dica seria: documenta tudo! Conversas, acertos, horários de montagem/desmontagem, numera os trabalhos e fotografa todos eles em ordem, já montados.
Colas e molduras sempre deixam marcas, se vc for fazer pra vender, deixa uma margem boa para que possa aparar e fazer o acabamento.
Aproveita bastante (quero muitas fotos!!!)
Beijão 😘😘
Aaaaaai, Lidy !! Só vi agora o comentário (e acabei de postar no outro post ahahaa).
ExcluirEu estou tão tão tããããão empolgada com essa exposição que só tu que já expôs deve imaginar como é - ainda mais sendo a primeira individual. Meu sonho agora já é fazer várias exposições pelo Brasil todinho aahahahaha - e ainda nem começou a minha primeira (pra tu ver o nível de empolgação né) xD
Muuuito obrigada por todas as dicas, vou seguir todas elas !! Eu nem pensava em registrar nada, mas é importante mesmo né !! Muuuito obrigada mesmo !! <3 <3 <3 Vou registrar tuuuuudo, ahaha. xD
Estou em uma correria só aqui para deixar tudo prontinho e ainda tenho que finalizar alguns trabalhos. Trabalhando noite e dia, maaaaas, acho que vai valer a pena. xD Depois vou te contando tudo !!
E, pode deixaaaaar, vou tirar muitas fotos !! xD
Obrigaaaada, mais uma vez, por fazer esse conteúdo tão precioso; sempre me ajuda demais !! <3 <3 <3 <3
Beijão !!!
Ju, tenho certeza de que a sua exposição será um sucesso, pois todos os seus trabalhos (além de lindos) mostram a sua extrema competência e comprometimento com a arte.
ExcluirPude ver isso nas duas vezes que te apoiei no Catarse, o quanto vc pensa em cada detalhe com carinho.
É normal estar ansiosa, nem me fale hehehe, mas depois de tudo pronto, você vai ver o quanto é gratificante e como o público reage bem.
Já quero essa turnê Brasil a fora, pra poder ver todas essas lindezas de pertinho <3 <3
Beijão :****
Parabéns pelo trabalho incrível Lidy!
ResponderExcluirImagino quão corrido e ocupado foram esses dias.
Achei o post muito útil e pertinente.
Muitas vezes quando falo para alguém que não estarei livre para alguma coisa
pois tenho que estudar, logo vem a pergunta. O que você estuda? E eu falo desenho, vejo carinhas de confusão.
Acho muito importante seu post pois acredito que falando sobre isso que vamos educando e informando as pessoas.
Eu mesma achava que era um dom, ou você não sabia sabendo, ou não era para você e isso me impediu de enxergar tanta coisa durante muito tempo.
Hoje consigo apreciar mais os mais variados trabalhos artísticos, toda dedicação, tempo e carinho empregado ali.
Mais uma vez, muito obrigada pelo conteúdo de qualidade! =D
Oi Lay!! Muito obrigada <3
ExcluirForam dias muito corridos, sim, pra você ter uma ideia, a exposição terminou há 10 dias e eu ainda não consegui retomar o ritmo de trabalho e talvez só volte a produzir com a mesma intensidade de antes só no Inktober... :O Mas foi muito bom também, e estou feliz por ter vendido praticamente tudo!
Acho muito importante mostrar esse lado da produção artística, porque as pessoas não imaginam que nós trabalhamos tanto, que estudamos, pegamos pesado, fazemos tudo com muito carinho e com muito esforço. E também é uma maneira de lembrar o quanto nosso trabalho é importante.
Até reli e dei uma modificada na parte que falo do texto do Benjamin, pois já teve gente distorcendo o que eu falei, da mesma maneira que distorcem o ensaio dele. Acho incrível que estejamos num mundo conectado e que proporciona acompanhar e ter o trabalho dos artistas que acompanhamos e, de maneira nenhuma, isso quebra a aura da obra de arte, pelo contrário: cada vez mais se cria a cultura de apreciar e consumir arte.
Grande beijo!! :*
Parabéns, Lidy! Realmente trabalhar com arte dá... trabalho. 😂😂😂Empreendendo nos últimos anos, creio q, na real, passo mais tempo cuidando de outras questões do q fazendo arte em si. Meu sonho e ter alguém q me ajude com burocracias e trabalho braçal. Bom segundo semestre e novas empreitadas pra ti!
ResponderExcluirObrigada, Lila! Para quem vive disso é até óbvia a trabalheira que dá viver de arte, mas a maioria das pessoas desconhece esse lado. Meu sonho também é ter alguém para cuidar de toda parte burocrática, para que eu possa me concentrar em produzir, vamos ver se chego lá hehehe
ExcluirBeijão :***