Pablo Picasso pintando com a luz. Fonte: Resource Magazine |
Faz muito tempo (muito mesmo, acho que a última postagem desse tipo é de 2016) que não faço resenhas de materiais. Há alguns anos adotei a prática de falar sobre o que estou usando de maneira contextualizada, geralmente quando produzo uma ilustração e mostro o passo-a-passo. Acredito que, dessa forma, quem me lê pode ver o material em ação, com um propósito específico determinado e, a partir da minha experiência, decidir se é algo que ela quer experimentar também. Quando esses materiais vão se repetindo, faço uma postagem atualizada com meus favoritos, e daí especifico marcas e outras características, mas tudo dentro da minha esfera pessoal de vivências.
O mesmo acontece com tutoriais. Embora a galáxia em aquarela seja o post mais acessado do blog, não me sinto mais confortável para chegar aqui e dizer como fazer um desenho, mesmo que eu reforce que é da minha maneira, e que ela não é a única. Também prefiro contextualizar dentro de um trabalho autoral, mostrando como pintei a pele, como fiz o cabelo de uma figura, como cheguei na mistura desejada.
Indo um pouco além, também deixei de mostrar muitas coisas do meu espaço de trabalho, principalmente livros. Prefiro trazer para cá coisas significativas, como o livro Pequeno Guia de Incríveis Artistas Mulheres, ou os que uso em sala de aula, pois são obras que vão instigar a pesquisa e o crescimento de quem, por acaso, venha cair aqui.
Todas essas posturas vêm de uma série de confluências: a responsabilidade que é falar sobre algo na internet; a exposição que isso traz; o cenário político atual; o consumismo desenfreado que isso pode gerar; a ideia de que precisamos saber tudo, o tempo todo.
Quando alguém comenta num post antigo desse tipo, dizendo que veio parar no blog por causa de uma resenha ou de um tutorial, e gostaria de ver mais, fico feliz mas não me prendo a isso para continuar escrevendo aqui. Vou mostrando meu trabalho, contando sobre o que acho ser relevante na minha vida docente, mas deixo todo mundo livre para ler ou não ler o blog.
É claro que AMO resenhas, e acompanho blogs que fazem trabalhos maravilhosos, desde produtos para pele até filmes, mas, especificamente em relação a materiais e técnicas artísticas, não pretendo mais dispender tempo e energia para testar, fotografar, organizar e me expor por um produto que pode ter funcionado muito para mim, mas que pode ter sido uma dor de cabeça para outra pessoa. Ou mostrar como fazer um determinado efeito e tempos depois descobrir que existe um jeito muito mais fácil de fazer a mesma coisa, e que fiquei ensinando "errado".
Mas o mais importante de tudo, e o ponto onde realmente quero chegar, é o fator viva a sua experiência. Eu sou o tipo de pessoa que compra muita coisa por impulso, ou por achar a embalagem bonita, ou por decidir tentar uma técnica nova (oi, pastel oleoso!), e sai cada lambança que me deixa dias pensando na quantidade de prestações que ainda vou pagar por algo que achei péssimo, ou no porquê de não ter comprado logo uma coleção inteira do que mais amei testar. E é essa experiência que vejo faltar nos artistas, atualmente.
Todo mundo está tão preocupado em postar seu trabalho da melhor forma possível que acaba perdendo oportunidades extraordinárias de se jogar em coisas novas e absurdas. Picasso foi um artista reconhecido pelo incontável número de experimentações durante sua longa carreira, criando novas técnicas de fazer, apreciar e se relacionar com a arte. Hoje estamos todos preocupados com likes e no melhor que podemos mostrar. Só que nem sempre este melhor é o que realmente queremos mostrar, ou ainda, se realmente queremos mostrar.
Ontem li uma publicação da Brunna Mancuso sobre querer dar novos rumos para a carreira dela, experimentar coisas novas e parar de se importar com números. E acho que todo artista deveria seguir os passos dela. É legal pesquisar sobre materiais novos e marcas confiáveis? Nossa, se é. É legal ter muita gente reconhecendo nosso trabalho? Puxa, nem me fale! Mas também é bom se permitir: experimentar, errar, errar bastante, fazer absolutamente nada, errar mais um pouco, testar novamente aquele tubo de tinta perdido dentro da gaveta, esvaziar todas as gavetas e partir para algo totalmente novo e inóspito.
A experimentação aguça a curiosidade, que anda de mãos dadas com a nossa criatividade. Mesmo que nossos feeds mostrem coisas interessantes e criativas, ou que o blog mais completo ofereça todo conteúdo para começar a desenhar do zero, é só na prática e na tentativa e erro que o trabalho realmente emerge.
A inspiração existe, mas precisa te encontrar trabalhando.
Pablo Picasso
Lidiane, adorei o post. Faz um tempo que não publico nenhuma resenha também (e olha que eu testei muita coisa legal do começo do ano para cá), agora, quando quero falar de algo, tenho usado o Instagram para citar apenas. Aliás, faz tempo que não acesso o blog ou faço postagens também, depois do começo do ano (e do novo emprego), ficou difícil pintar, fotografar e editar fotos, etc. Imagina escrever. Gosto de ver que ainda esta ativa no blog. Blogar se tornou um flerte quase proibido para mim. Que bênção... Enfim, depois de um tempo, é engraçado como essas coisas começam a perder sentido. No fim das contas, não importa quantas lapiseiras compramos, o melhor material que conheço para desenhar ainda é o lápis e no fim, nada disso importa.
ResponderExcluirOi Mateus!
ExcluirEntão, eu tenho repensado muito essa questão de mostrar tudo, falar sobre tudo. No meu trabalho com crianças vejo o quanto elas estão ansiosas, e o quanto isso as empurra para uma necessidade de querer tudo ao mesmo tempo. E transportando isso para cá, não sei até onde ajuda eu dizer que testei um lápis x e fazer uma resenha completa do lápis. Não sei até onde essa dica pode gerar uma ansiedade em quem lê. Acho mais saudável mostrar meu processo e as pessoas verem como cheguei até o resultado vendo o que construí. Blogar tem sido escasso por aqui, sempre aproveito uma brecha, que é cada vez menor. Mas seguimos com aquilo que acreditamos!
Abraços :)