Eu tenho tentado, em meio à montanha de trabalho que necessito vencer diariamente, manter um mínimo de sanidade me agarrando aos livros. Atualmente, estão na minha cabeceira Nós, mulheres, da Rosa Montero, um daqueles socos no estômago históricos, que nos fazem perceber o quão frágeis são os direitos das minorias, e Talvez você deva conversar com alguém, da Lori Gottlieb, terapeuta que narra suas aventuras enquanto profissional e paciente.
Fora isso, tudo é trabalho, o trabalho remoto que toma conta da casa, dos móveis, do celular incansável, da hora do almoço e do banho, pois se impregna em cada cômodo, disfarçado desse conceito chique de home office. Nunca senti tanta saudade de escola, do sinal tocando para anunciar a hora de entrada, o recreio, a saída. Do cansaço na sexta-feira, pois era um cansaço que deixava a semana para trás, o sentimento de dever cumprido. Hoje o dever é quantificar mensagens recebidas pelo WhatsApp e checar se áudio e vídeo estão funcionando no Meet.
Bueno, tirando isso - as leituras para manter a sanidade, e o trabalho - o resto é preocupação. Com o governo (ou a falta dele), a irresponsabilidade das pessoas, o egoísmo, o colapso, o negacionismo, a falta de perspectiva de sair desse buraco no qual nos enfiamos e ficamos tomando água de esgoto de guti-guti.
Não sei outros criativos, mas eu já joguei a toalha há uns bons meses. Fiquei no automático, fiz algumas coisas que precisavam ser feitas a duras penas, mas absolutamente nada mais sai de mim de maneira criativa e espontânea. Tudo é fruto ou da necessidade de cumprimento de prazos, ou de uma sensação vazia de preciso continuar senão enferrujo. Mas a verdade é que já faz um mês que não pego um lápis, que não sinto vontade de criar algo, e todo material que posto para manter as redes minimamente movimentadas é um grade tbt.
Não sei de onde nasce essa vontade criativa em meio ao caos e à desesperança. A Covid chega cada vez mais perto, infectando e matando conhecidos, colegas de profissão, anônimos que não são só números, são pessoas que tiveram família, sonhos e desejos.
Eu não sei de onde tirar essa vontade de criar no meio da morte. Aplaudo quem segue firme no seu propósito, fazendo arte ativista, usando o humor para denunciar o absurdo, ou simplesmente seguindo com as suas temáticas de costume como forma de resistência.
Eu não consigo mais, só quero que tudo isso passe, que alguém jogue a corda para que possamos sair do buraco.
Escrevo esse texto direto do celular, num lampejo de tentar colocar os sentimentos na tela/papel. A impressão é de que todos estamos gritando, mas é um grito mudo, que ninguém ouve. Que tempos horríveis para ter acesso à informação, pois quanto mais leio e me informo, mais me desespero.
Enfim, não espero chegar a nenhuma conclusão com esse texto, é apenas um desabafo, e uma maneira de preencher esse espaço e justificar o pagamento do domínio. Talvez em breve eu publique um post agendado há algum tempo, que certamente vai destoar desse aqui, então tratarei de rever o texto, para se adequar ao meu momento de total descrédito na humanidade.
Fiquem bem, usem máscara e álcool em gel, evitem aglomerações e cuidem dos seus.
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