Antúrio 🌿

03/05/21


Desenterrei a vontade de trabalhar numa ilustração totalmente baseada na força do ódio. Enquanto professora da rede pública do RS, estamos em meio ao caos do retorno presencial/híbrido, num dos piores momentos da pandemia, no qual faltam vacinas, leitos e vergonha na cara dos governantes.

E, embora não haja mais disposição criativa nesse corpo que dê conta de tantas tragédias que acontecem dia após dia, senti que se eu não pegasse um momento para desligar da vida docente e focar na arte, tudo ficaria pior. Então, vinha ensaiando a algumas semanas retomar um esboço (daqueles que ficam eternamente guardados) para colocar a cabeça em ordem.

Como meu último trabalho da série Botânicas foi em 2019, achei que era hora de dar vida a Antúrio, resgatando minhas aquarelas, que estavam paradas desde fevereiro. Decidi, também, usar o que eu mais gostava, desde a técnica escolhida até o papel e as tintas, para que realmente fosse um momento só meu e da ilustração. Como foi em tantos momentos anteriores à pandemia e como idealizei que fosse no meu ateliê.
 


Para essa ilustração, usei somente as aquarelas da White Nights, pois preciso aprender a trabalhar com aquelas cores e tirar o melhor daquele estojo. Fiz uma base em azul cerúleo para as sombras e os valores das plantas. E para a figura, trabalhei com vermelhos e azuis misturados para criar a base, que foi utilizada em maior intensidade nas sombras. Tenho optado por essa forma de preencher pele, ao invés de marcar os valores em cinza ou azul, pois acredito que traz uma leveza maior. Os retoques foram com lápis de cor e marcadores, mas tenho tentado usá-los cada vez mais pontualmente. O resultado:


Materiais utilizados

  • Papel para aquarela Arches grana fina 300g;
  • Aquarelas White Nights;
  • Pincéis sintéticos Giotto;
  • Marcadores Posca e Sakura;
  • Lápis de cor  Rijksmuseum Bruynzeel.


Fiquei especialmente satisfeita com o contraste entre as flores e as formas femininas, e as folhagens crescendo pelos cabelos, como se tudo fizesse parte da mesma força natural. Depois de digitalizada, apenas reduzi um pouco de poeira e saturação, e apliquei multiply no Phtoshop. A textura do papel ficou muito bonita e ajudou a dar o aspecto granulado da planta. Mais detalhes:


Esse trabalho me fez muito bem, me fez reconduzir minha prática artística, algo que não posso viver sem, e que toca outras pessoas também. Mas ainda é muito difícil, para mim, criar em meio a esse desastre pandêmico. Ainda me sinto exausta só por olhar o noticiário.

Seguimos dia após dia, de flor em flor... 🌹

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