A mandrágora é uma planta medicinal, com efeitos alucinógenos, que está presente em diversas lendas e culturas. Do Egito Antigo aos tempos bíblicos, passando pelos usos mágicos na Idade Média, até os dias atuais e sua presença em franquias como Harry Potter. É a planta usada por Circe, a planta que grita ao ser arrancada da terra.
Nessa representação, quis usar a forma feminina em harmonia com a natureza, ela própria a raiz fértil que faz as folhagens crescerem. A mandrágora/mulher como deusa da fertilidade, seu corpo como parte do todo natural, e não um fetiche ao olhar masculino.
Essa ilustração surgiu de forma bastante espontânea, mas a partir de um sentimento que eu já venho cultivando há um bom tempo: o de representar o nu feminino apenas como um corpo funcional, e não como fetiche. Vejo muitos ilustradores fazendo nus, mas as imagens carregam um desconforto, justamente por conta do male gaze, que é essa representação feminina feita por e para homens heterossexuais.
Lembro das imagens das vênus da fertilidade, deusas esculpidas com fartos seios e vulvas aparentes, e essas imagens não parecem desconfortáveis, justamente por serem corpos com um propósito que não é o da sexualização, pura e simples. Até mesmo imagens contemporâneas, como as da ilustradora Priscila Barbosa, que dá um sentido político aos corpos, principalmente aos diversos, não possuem esse aspecto de voyeurismo que muitos homens insistem em transmitir nas suas obras.
Essas divagações me levaram à figura da mandrágora, com suas raízes que parecem um ser humano em miniatura. Resolvi juntar as vênus neolíticas com essa planta, criando a representação de uma mulher/raiz com seu corpo volumoso, estriado (a inspiração veio da textura das batatas!), e que sustenta uma grande cabeleira verdejante. A imagem do corpo como sustentáculo e nutriente para a vida, como lugar seguro, se apresentando para o mundo da maneira que é, e não como os outros esperam que seja.
Geralmente, nas representações da mandrágora, a expressão facial é de medo ou terror, mas aqui quis representar a plenitude e a felicidade pela abundância; a mente fértil de ideias, que precisa ter uma boa base para se desenvolver.
Materiais utilizados:
- Papel para desenho 180g Spiral;
- Lápis de cor Staedtler Design Journey;
- Edição e aplicação de efeitos no Photoshop.
Após digitalizar, fiz algumas aplicações de manchas, como se a ilustração fizesse parte de um livro antigo, usado por feiticeiras. Para saber mais sobre os usos da mandrágora, recomendo a leitura do TCC Plantas mágicas no medievo: mulheres, magia e igreja, de Valentino Sterza (Universidade Federal da Paraíba, 2019).
Que trabalho mais lindo! Conheci as mandrágoras em Harry Potter, só mais tarde fui saber que a inspiração da JK Rowling era mais antiga. Essa sua releitura ficou maravilhosa. Transmite muita feminilidade. Amei.
ResponderExcluirAh, muito obrigada!!
ExcluirBjs :*